quinta-feira, 19 de março de 2009

... para entender melhor a cibercultura.

O professor iniciou a aula esclarecendo alguns conceitos empregados no texto. Zeitgeist, o pensamento, o espírito de uma época; Noosfera, a esfera das idéias; Geosfera e mais uma esfera. Passou, então, para a diferenciação entre socialidade e sociabilidade. Sociabilidade é a relação que acontece em função de uma estrutura formada, onde se tem um objetivo. É a relação institucionalizada, a que acontece, por exemplo, em uma sala de aula. Já socialidade, são as relações de amizade, por exemplo, que não dependem de uma instituição para existir.

Tendo definido esses conceitos, passamos a revisar o conteúdo do texto. Não discutimos sua parte introdutória, onde faz um panorama generalizado da ciberultura, passando diretamente para a parte em que fala sobre a técnica (Tékhne).

Tékhne, vem do grego e quer dizer Arte no sentido de praticar alguma atividade. Diferencia-se, aqui, a Tékhne, que é o saber fazer humano, da phusis, que o princípio de geração das coisas naturais. A diferença fundamental, segundo os gregos, entre o fazer natural e o fazer do homem, é que o primeiro é autopoiético. Poièsis é, segundo Lemos, a passagem da ausência para a presença, característica presente tanto na tékhne quanto na phusis. Essa última tem, porém, a capacidade de se auto-reproduzir, que é a autopoiese. O homem chega à poiése a partir do momento em que passa a utilizar a técnica.

O conceito de Tékhne foi analisado de diversas maneiras pelos gregos. Os sofistas separavam o saber prático do saber teórico (Épstèmé), dizendo que eram dissociados um do outro. Platão vê a técnica como inferior à Épstèmé. Já Aristóteles considera as atividades práticas como sendo inferiores phusis, já que, mesmo imitando e dominando essa, a técnica não alcança a auto-poièsis.

A técnica é uma forma de relação entre os seres vivos e a natureza, e é responsável pela evolução humana. Nossa evolução se dá em função da técnica. A partir do momento em que nos protegemos do frio com peles de animais, nosso corpo deixa de precisar de tantos pelos, e, por isso, deixa deproduzí-los. Por isso se diz que “é a Tékhne que inventa o homem”. Aos poucos, porém, a técnica deixa de afetar nosso desenvolvimento físico. Isso acontece porque deixamos de estar em contato tão intenso com a natureza. Passamos, então, a criar aparatos tecnológicos, que não mais têm influencia em nosso desenvolvimento. É nesse ponto que, segundo Lemos, surge a linguagem, já que para se alcançar instrumentos é necessário que se sinalize esse desejo de alguma forma.

A introdução do uso das máquinas distanciou o pensamento que se tinha de homem-técnica. A posição que a máquina ocupou na sociedade foi responsável pela sensção de que a tecnologia não fazia parte da cultura humana.

Simondon, um dos mais importantes filósofos da técnica do século XX, tentou quebrar com esse pensamento quando desenvolveu estudos que defendiam a idéia da filosofia dos mecanismos, sugerindo que a tecnologia contemporânea corresponde a uma lógica, segundo o desenvolvimento das técnicas primitivas.

A tecnicidade aparece, então, para resolver problemas da relação homem-mundo (fase mágica). Nessa fase, a relação homem-mundo é tanto objetiva quanto subjetiva. Porém, a partir da saturação da fase mágica, o homem cria a técnica para resolver seus problemas relacionados aos fenômenos da natureza e cria também a religião para tratar do espírito e da imaginação. Com o surgimento de 3 tipos de realidade - o mundo, o sujeito e o objeto - a técnica e a religião também se saturam dando origem à tecnologia e ciência; e ao dogma e ética.

Simondon propõe três níveis de desenvolvimento para o entendimento da evolução dos objetos técnicos: a ferramenta, a máquina e as indústrias. Com o século XXI surge um novo nível, em que a cibercultura se faz presente. "Aqui as meta-máquinas digitais (computadores) não manipulam mais matéria e energia. Agora trata-se de traduzir a natureza em dados binários" (LEMOS, 2002 :36).

Heidigger acredita que na visão antropológica da técnica não se revela toda a sua essência. Ele entende por poèsis o processo que revela uma verdade, podendo ser natural (phusis) ou artificial (teknè). A diferença da técnica primitiva e da tecnologia estaria no embasamento científico que a tecnologia possui. Heidigger acredita que a essência da tecnologia está no que ele chamou de Gestell, uma provocação científica da natureza. Ele não é contra a técnica, mas a afirma que há o mistério da sua essência e que o perdigo estaria no Gestell como destino do ser do homem.

Em sala de aula pudemos perceber a forma com que a técnica evoluiu, primeiro de uma forma sem embasamento científico, passando, então, a estar associada a ele, originando a tecnologia. Encontramo-nos agora em uma fase nova, em que a cibercultura é a grande atuante. Ela não é uma cultura definida pela tecnologia, mas sim uma relação entre novas formas sociais e novas tecnologias digitais.


Cezar A. Simon e Letícia V. Sebastião

1 comentário:

  1. "Cibercultura" é a relação entre sociedade, cultura e novas tecnologias; ela compõe o cenário que vivemos hoje, marcado por celulares, pages, homebanking, palms...
    No cenário atual é cada vez mais fortes as novas formas de comunicação (como o jornalismo online e os weblogs), onde acontece a "liberação do pólo da emissão". Nessa nova forma de comunicação, é legal a possibilidade de maior interação, onde o receptor também pode ser emissor. o lado negativo é que insere a sociedade num contexto de instantaneidade, o que possibilita a entrada de muitas informações, mas de poucas reflexões.

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.