Tendo definido esses conceitos, passamos a revisar o conteúdo do texto. Não discutimos sua parte introdutória, onde faz um panorama generalizado da ciberultura, passando diretamente para a parte em que fala sobre a técnica (Tékhne).
Tékhne, vem do grego e quer dizer Arte no sentido de praticar alguma atividade. Diferencia-se, aqui, a Tékhne, que é o saber fazer humano, da phusis, que o princípio de geração das coisas naturais. A diferença fundamental, segundo os gregos, entre o fazer natural e o fazer do homem, é que o primeiro é autopoiético. Poièsis é, segundo Lemos, a passagem da ausência para a presença, característica presente tanto na tékhne quanto na phusis. Essa última tem, porém, a capacidade de se auto-reproduzir, que é a autopoiese. O homem chega à poiése a partir do momento em que passa a utilizar a técnica.
O conceito de Tékhne foi analisado de diversas maneiras pelos gregos. Os sofistas separavam o saber prático do saber teórico (Épstèmé), dizendo que eram dissociados um do outro. Platão vê a técnica como inferior à Épstèmé. Já Aristóteles considera as atividades práticas como sendo inferiores phusis, já que, mesmo imitando e dominando essa, a técnica não alcança a auto-poièsis.
A técnica é uma forma de relação entre os seres vivos e a natureza, e é responsável pela evolução humana. Nossa evolução se dá em função da técnica. A partir do momento em que nos protegemos do frio com peles de animais, nosso corpo deixa de precisar de tantos pelos, e, por isso, deixa deproduzí-los. Por isso se diz que “é a Tékhne que inventa o homem”. Aos poucos, porém, a técnica deixa de afetar nosso desenvolvimento físico. Isso acontece porque deixamos de estar em contato tão intenso com a natureza. Passamos, então, a criar aparatos tecnológicos, que não mais têm influencia em nosso desenvolvimento. É nesse ponto que, segundo Lemos, surge a linguagem, já que para se alcançar instrumentos é necessário que se sinalize esse desejo de alguma forma.
A introdução do uso das máquinas distanciou o pensamento que se tinha de homem-técnica. A posição que a máquina ocupou na sociedade foi responsável pela sensção de que a tecnologia não fazia parte da cultura humana.
Simondon, um dos mais importantes filósofos da técnica do século XX, tentou quebrar com esse pensamento quando desenvolveu estudos que defendiam a idéia da filosofia dos mecanismos, sugerindo que a tecnologia contemporânea corresponde a uma lógica, segundo o desenvolvimento das técnicas primitivas.
A tecnicidade aparece, então, para resolver problemas da relação homem-mundo (fase mágica). Nessa fase, a relação homem-mundo é tanto objetiva quanto subjetiva. Porém, a partir da saturação da fase mágica, o homem cria a técnica para resolver seus problemas relacionados aos fenômenos da natureza e cria também a religião para tratar do espírito e da imaginação. Com o surgimento de 3 tipos de realidade - o mundo, o sujeito e o objeto - a técnica e a religião também se saturam dando origem à tecnologia e ciência; e ao dogma e ética.
Simondon propõe três níveis de desenvolvimento para o entendimento da evolução dos objetos técnicos: a ferramenta, a máquina e as indústrias. Com o século XXI surge um novo nível, em que a cibercultura se faz presente. "Aqui as meta-máquinas digitais (computadores) não manipulam mais matéria e energia. Agora trata-se de traduzir a natureza em dados binários" (LEMOS, 2002 :36).
Heidigger acredita que na visão antropológica da técnica não se revela toda a sua essência. Ele entende por poèsis o processo que revela uma verdade, podendo ser natural (phusis) ou artificial (teknè). A diferença da técnica primitiva e da tecnologia estaria no embasamento científico que a tecnologia possui. Heidigger acredita que a essência da tecnologia está no que ele chamou de Gestell, uma provocação científica da natureza. Ele não é contra a técnica, mas a afirma que há o mistério da sua essência e que o perdigo estaria no Gestell como destino do ser do homem.
Em sala de aula pudemos perceber a forma com que a técnica evoluiu, primeiro de uma forma sem embasamento científico, passando, então, a estar associada a ele, originando a tecnologia. Encontramo-nos agora em uma fase nova, em que a cibercultura é a grande atuante. Ela não é uma cultura definida pela tecnologia, mas sim uma relação entre novas formas sociais e novas tecnologias digitais.
Cezar A. Simon e Letícia V. Sebastião
"Cibercultura" é a relação entre sociedade, cultura e novas tecnologias; ela compõe o cenário que vivemos hoje, marcado por celulares, pages, homebanking, palms...
ResponderEliminarNo cenário atual é cada vez mais fortes as novas formas de comunicação (como o jornalismo online e os weblogs), onde acontece a "liberação do pólo da emissão". Nessa nova forma de comunicação, é legal a possibilidade de maior interação, onde o receptor também pode ser emissor. o lado negativo é que insere a sociedade num contexto de instantaneidade, o que possibilita a entrada de muitas informações, mas de poucas reflexões.