quinta-feira, 19 de março de 2009

Da Tekhnè à Cibercultura: Como a utilização da técnica possibilitou o surgimento do ciberespaço

Assim que a aula iniciou, o professor Gilberto Consoni diferenciou os conceitos de Socialidade (compartilhar, discutir questões da cultura ou questões não programadas) e Sociabilidade (relações institucionais, a exemplo de assuntos do trabalho, universidade). Logo após, esclareceu diversos conceitos empregados no texto de André Lemos, tais como Zeigeist, Noosfera e Geosfera.

A partir daí, iniciamos a discussão sobre a temática do texto propriamente dito, indo direto ao ponto onde o autor trata da Tekhnè (do grego, arte), que se define como o saber fazer do homem, e, de acordo com o autor, é justamente a Tekhnè que diferencia este fazer humano do fazer natural (o brotar de uma flor, fazer o sol nascer a cada dia). Junto com a Tekhnè, a Phusis faz parte do processo de vir a ser, porém Phusis é o próprio fazer natural autopoético – de autoreprodução –, no qual o homem não é capaz de realizar, segundo o filósofo Aristóteles. Tendo em vista tal limitação, o homem se utiliza da Tekhnè para controlar o natural.

Entra, nesse ponto, a questão do conhecimento, em que os sofistas separam a prática da técnica, onde Tekhnè é o saber prático e Épstèmé é o saber teórico. Essa diferenciação é criticada por Platão, pois sua visão filosófica afirma que isso é quase impossível, já que para ele não pode haver o conhecimento prático sem ter o conhecimento natural, que é superior. Aristóteles também tem essa visão filosófica, complementando essa idéia ao passo que diz que Tekhnè é o saber prático que imita e domina a Phusis.

Para definir técnica, o professor citou Rüdiger, que afirma que técnica é a aplicação do saber passivo de desenvolvimento, mas não de pleno acabamento ou total perfeição. Quando o homem sente a necessidade de realizar uma tarefa, ele cria uma técnica pra cumpri-la, ou seja, podemos afirmar que a técnica era de cunho zoológico, até a fase de formação do córtex, desenvolvido por causa da técnica. Depois dessa fase, a técnica vai se tornando independente. E é por isso que podemos dizer que a técnica que inventou o homem, pelo fato de ela ter sido necessária para a utilização de instrumentos como a caneta, o pincel, a tinta, gesto esse que propiciou o surgimento da fala.

Sobre a desnaturalização, o professor afirma que quanto mais nos afastamos da natureza, menos a técnica nos influencia, e é após tal período é que surge a linguagem e a formação da cultura. Com o surgimento da máquina (tecnicidade humana), que manipula os instrumentos originalmente utilizados pelo homem, o afastamento homem-natureza amplia-se ainda mais. Não há, assim, como separar o homem da máquina: a cibercultura é a cultura humana manifestada através da máquina.

O próximo assunto abordado em aula foi a tecnologia, que é a ciência da técnica, o conhecimento científico para a utilização dela. A tecnologia é o melhoramento da técnica já existente, para ser mais eficaz, rápida e evoluída. Em seguida, caracterizamos a teoria do Élan Vital, na qual sugere que o órgão é o instrumento natural do homem, enquanto a ferramenta é o instrumento artificial, um prolongamento de seu corpo.

A fase mágica serve para resolver as interfaces do homem com o mundo. A “figura” (objeto) é até onde o homem consegue explicar com a ciência que conhece, já o “fundo” (religião) é o que não sabe explicar, não sabe afirmar com certeza por meio de nossa ciência. Ou seja, a tecnologia serve para resolver os problemas do homem com a natureza, e a religião resolve os problemas do homem com o espírito.

A partir das discussões abordadas em aula, a Cibercultura é a associação entre a cultura contemporânea e as tecnologias digitais, relacionando a técnica e a vida social. A Cibercultura é a manifestação da cultura nos tempos de ciberespaço.


Fernanda Assenato e Rafaela Richter

5 comentários:

  1. É interessante a discussão sobre toda essa influência que a "técnica" exerceu na sociedade humana desde os seus primórdios.
    Um ponto que vale a pena ressaltar é a opinião dos sofistas, principalmente a separação entre Tekhnè e Épstèmé, duramente criticada por Platão, que também viria a condenar a filosofia de "ensino" que os sofistas pregavam (que sustentava, entre outras coisas, a possibilidade de se ensinar, diretamente, habilidades como a moral), em oposição a maiêutica socrática.

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  2. Acredito que a as questões abordadas sobre a real compreensão do que é técnica, o que é prática natural e o que é ciência vieram a exclarecer a situação que encontramos atualmente no campo da Cibercultura. A partir disso percebemos que há uma colaboração entre a teoria e a prática, contribuindo juntas para o avanço da tecnologia.

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  3. A abordagem da aula sobre, pode-se dizer, o surgimento da técnica, é um assunto bem interessante, que pode, muitas vezes, trazer divergências de pensamentos, tais como de que a técnica inventou o homem. Eu, particularmente, discordo desta premissa, pois, ao meu ver, não foi nem a técnica que inventou o homem, nem o homem que inventou a técnica, mas que o surgimento dela se deu por uma necessidade de sobrevivência da espécie, assim como outras "mutações" que o homem sofreu para poder se adaptar ao meio, que também se modificava.
    Apesar de divergências sobre o assunto abordado, ele é muito pertinente para a discussão, para que possamos entender melhor o ser humano que somos hoje.
    Quanto à resenha das colegas, tenho a dizer que está muito coesa com que que foi abordado e trazido à aula pelo professor, em sua explanação sobre o texto indicado para leitura.

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  4. O Guilherme trouxe essa dos sofistas e o ensino da moral lá do primeiro semestre! Eu nem lembrava mais.
    Bom, sobre o nascimento da técnica, acho que no segundo capítulo é mais bem explicado: a técnica surgem com o homem. Concordo com a prerrogativa e acredito inclusive que se o homem não fosse pura técnica ele sequer perduraria e isso está intimamente ligado com a racionalidade.
    Gosto de estar no topo da cadeia. É tão confortável aqui. hehehe
    Parabéns, colegas. Ficou bacana mesmo a resenha de vocês.

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  5. Gostaria de comentar sobre a questão da religião e da ciência, sobre a tecnologia servir para resolver os problemas do homem com a natureza, e a religião resolver os problemas do homem com o espírito. Creio que cada vez é perceptível que a ciência passa a desvendar e a explicar quase tudo que a religião católica considerava milagre, ou obra de Deus sem nenhum fundo científico. Entretanto, gostaria de enfatizar novamente que esta é e sempre foi a maneira de ver da igreja católica, que faz um tempo vem perdendo espaço para outras religiões, como, por exemplo, a religião (ou melhor, a doutrina) espírita. Esta não só admite como incentiva o casamento entre ciência e religião. Estou citando este exemplo porque acredito que este é o nosso futuro; não acho que a religião como um todo se apagará completamente conforme a ciência for explicando todas as coisas, apenas acho que encontraremos um modo - como o espiritismo encontrou - de conciliar estas duas questões de forma a tirar bons proveitos tanto da religião - que sempre cuidará do espírito de uma forma muito mais romântica - quanto da ciência.

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